Dia Mundial do Cancro do Ovário: Cancro do ovário é o cancro ginecológico com a maior taxa de mortalidade

De acordo com os dados da GLOBOCAN 2022, foram diagnosticados, em Portugal, 682 novos casos de cancro do ovário em 2022, sendo o 11.º tipo de cancro em termos de taxa de incidência no sexo feminino. No mesmo ano foi responsável por 472 mortes, colocando-o como o oitavo cancro mais mortal no sexo feminino. Mundialmente, ocupa o oitavo lugar quer em taxa de incidência, quer em taxa de mortalidade. No âmbito do Dia Mundial do Cancro do Ovário, que se assinala hoje, 8 de maio, o Raio-X (RX) esteve à conversa com Cristina Frutuoso, Ginecologista Oncológica do Hospital da Luz de Coimbra, sobre esta neoplasia.

Raio-X (RX) – Assinala-se a 8 de maio, o Dia Mundial do Cancro do Ovário, quais são os principais objetivos de assinalar esta efeméride?

Cristina Frutuoso (CF) – São, sobretudo, sensibilizar as mulheres para a sintomatologia associada ao cancro do ovário, alertar os clínicos, falar das estratégias de tratamento e, muito importante, continuar a discussão sobre a importância da centralização do tratamento cirúrgico

RX – Qual é a prevalência do cancro do ovário em Portugal?

CF – O Registo Oncológico Nacional 2020 contabiliza 442 novos casos / ano, uma prevalência de 8.1/ 100 000 mulheres ano. Refira-se que o cancro da mama tem uma prevalência de 98,1/100 000 pessoas-ano.

RX – Quais os sintomas mais comuns do cancro do ovário?

CF – Devem valorizar se sintomas abdominais que aparecem de novo e persistem, como sensação de enfartamento, cólicas, alterações do transito intestinal e necessidade de urinar mais vezes. A maioria das mulheres aparece com distensão abdominal e ascite que são já sinais de doença avançada (não necessariamente inoperável).

RX – Quais as medidas que podem ser tomadas de forma a reduzir o risco?

CF – A contraceção hormonal e a salpingectomia bilateral (remoção das trompas para contraceção ou associada à remoção do útero em contexto de doença benigna).

RX – Há uma população especifica que tem maior risco de desenvolvimento de cancro do ovário?

CF – Sim, as mulheres com mutação dos genes BRCA. A pesquisa desta mutação é obrigatória em todas as mulheres com cancro do ovário e em muitas com cancro da mama. A sua deteção obriga a estudo da família.

RX – De que forma a deteção precoce pode fazer a diferença no tratamento e prognóstico do cancro do ovário?

CF – A deteção precoce faz a diferença no prognóstico de qualquer tumor. O cancro do ovário cresce de forma silenciosa, com sintomas inespecíficos e 75% dos casos são diagnosticados em estadios avançados. É um paradigma que não se tem conseguido mudar porque não existindo formas de rastreio, as mulheres acabam por perder uns meses até se chegar ao diagnóstico. É nesta fase de sintomatologia inespecífica que médico e doente devem pensar no diagnóstico. Conseguir fazer uma cirurgia completa logo de início, faz a diferença, modifica a sobrevivência.

RX – Quais são os tratamentos disponíveis? 

CF – A cirurgia primária completa é o principal fator de prognóstico. Quando não é possível, a doente é submetida a três a quatro ciclos de quimioterapia seguidos da cirurgia dita de intervalo, que também deve ser completa, sem deixar doença macroscópica visível. As terapêuticas de consolidação com fármacos chamados inibidores da PARP, depois de terminada a quimioterapia, mostrou modificar a sobrevivência. Lamentavelmente, entre nós, este tratamento só está aprovado para as doentes com mutação BRCA. Igualmente lamentável é não se poder usar o antiangiogénico Bevacizumab na consolidação primária.

RX – Quais são os desafios enfrentados pelas doentes com cancro do ovário desde o diagnóstico, passando pelo tratamento e pelo pós?

CF – A cirurgia é complexa, mas a morbilidade baixa se for realizada em centros especialmente dedicados, a quimioterapia tem toxicidade manuseável. Penso que o mais difícil é viver com a ideia de que é elevada a probabilidade da doença voltar a aparecer após tratamento primário.

RX – Há uma elevada taxa de mortalidade associada a este tipo de cancro, de que forma podemos mudar este paradigma? 

CF – Criando vias verdes, acelerando a chegada aos centros; centralizar as cirurgias que são complexas e diferenciadas; fluxogramas de terapêutica sistémica. Temos vindo a conseguir aumentar a sobrevivência global com cirurgias de qualidade e boa sequenciação das terapêuticas sistémicas. É crucial conhecer o status BRCA.

RX – Qual a mensagem que gostaria de deixar neste dia?

CF – Fixar a ideia de que o tratamento em centros especialmente dedicados faz a diferença. Lamentavelmente, entre nós, não foi ainda entendido que ninguém faz tudo bem e o tratamento dos tumores menos prevalentes, como o do ovário, requer poucos centros nacionais.

 

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