Grupo de peritos apresenta consenso estratégico para diminuir reincidência do enfarte do miocárdio

A implementação de uma orientação clínica nacional para o acompanhamento dos doentes no Pós-Enfarte Agudo do Miocárdio (Pós-EAM) é a principal recomendação do grupo de peritos que analisou e debateu os resultados do estudo que procurou responder à questão: “Estaremos no caminho certo para reduzir o risco de novo evento pós-enfarte do miocárdio em Portugal?”. As conclusões preliminares foram apresentadas e debatidas na terça-feira, 7 de fevereiro, no Auditório da Sociedade Portuguesa de Cardiologia.

O estudo teve como grandes objetivos mapear e otimizar o percurso clínico dos doentes no SNS após um primeiro enfarte, de modo a permitir o seguimento ideal dos doentes e definir os indicadores mais relevantes para uma gestão efetiva da doença.

O trabalho foi desenvolvido pela IQVIA™, consultora líder mundial especializada em analítica, soluções tecnológicas e serviços de investigação clínica para a indústria das ciências da vida, com o apoio da Amgen Biofarmacêutica, e contou com a orientação estratégica e validação técnica de um Steering Committee de peritos reconhecidos na área da Cardiologia: Eduardo Infante de Oliveira, do Hospital dos Lusíadas Lisboa, Filipe Macedo, do Centro Hospitalar Universitário São João, Hélder Pereira, do Hospital Garcia de Orta e Ricardo Fontes de Carvalho, do Centro Hospitalar Vila Nova de Gaia – Espinho.

Em termos metodológicos, primeiramente foi realizado um mapeamento dos hospitais a nível nacional, tendo sido selecionados sete hospitais de diferentes realidades e níveis de diferenciação, para se efetuar uma comparação entre o seguimento dos doentes no pós-enfarte agudo do miocárdio. Foram ainda realizadas entrevistas a profissionais de saúde.

Na análise efetuada, concluiu-se que apenas alguns hospitais portugueses possuem um centro especializado de reabilitação cardíaca, contudo esta rede não é bem conhecida e a referenciação não está organizada a nível nacional. Já em hospitais menos especializados, a reabilitação cardíaca não existe e o acompanhamento após o evento agudo é mais frágil, com menos médicos disponíveis ao nível hospitalar e uma grande distância das populações ao hospital de referência. Em realidades onde existe reabilitação cardíaca, a adesão dos doentes a estes programas está dependente da sua facilidade em compatibilizar o acompanhamento com o regresso à normalidade. Acresce o facto de não existirem orientações atualizadas para o seguimento dos doentes Pós-EAM em Portugal. Alguns hospitais possuem protocolos próprios para o tratamento destes doentes e outros não, além de existirem grandes desafios na disponibilidade e alocação de recursos (profissionais de saúde, equipamentos, infraestrutura, etc.) à prevenção secundária.

Como resposta ao cenário encontrado e de forma a prevenir a reincidência de EAM, o grupo de peritos identificou um conjunto de recomendações que devem ser seguidas para o efeito: (1) Desenvolver um programa de reabilitação cardíaca estruturado em duas fases é fortemente recomendado; (2) O seguimento por telefone e o encaminhamento para a Medicina Geral e Familiar (MGF) são passos essenciais após alta; (3) O acompanhamento em cardiologia no hospital deve definir a direção dos cuidados a serem prestados ao doente; (4) a gestão diária do período pós-agudo deve ser coordenada pelo médico de medicina geral com forte envolvimento dos doentes; (5) um aconselhamento dietético e psicológico e consultas de especialistas para cessação tabágica devem estar disponíveis; e (6) os doentes devem ser colocados o quanto antes dentro dos alvos terapêuticos estabelecidos pelas sociedades cientificas (ESC – European Society of Cardiology) com as ferramentas terapêuticas disponíveis.

Na segunda parte do estudo, o Steering Committee contou ainda com a colaboração de um grupo adicional de peritos, que identificou um conjunto de outcomes que seria necessário priorizar enquanto indicadores com maior impacto positivo no percurso do doente. Consideram que é urgente o desenvolvimento de consensos para a divulgação de dados/resultados e para a definição de critérios padronizados para o seguimento do doente, monitorização e referenciação. Estes outcomes essenciais foram divididos em quatro categorias, de acordo com a fonte de recolha: (1) Outcomes analíticos (derivados de resultados de exames e medições diretas de parâmetros relevantes em doentes); (2) Outcomes clínicos (avaliação do estado do doente após o tratamento e acompanhamento do EAM); (3) Patient reported outcomes (relacionados com a forma como os doentes prosseguem a sua vida e avaliam a sua qualidade de vida); (4) Outcomes dos cuidados de saúde (relativos à adequação dos cuidados prestados ao doente, tanto no que diz respeito às ações dos profissionais de saúde, como ao acesso dos doentes aos cuidados de saúde).

Após o contributo das diferentes entidades e peritos envolvidos e da sociedade em geral, as recomendações serão alvo de publicação científica e de uma fase de apoio à implementação das mesmas junto dos prestadores de cuidados de saúde.

As doenças cardiovasculares mantêm-se a principal causa de morte a nível global, pelo que urge uma ação que permita ajudar a mitigar este número. Em Portugal, são responsáveis por cerca de 33 mil mortes anualmente, um terço do total de óbitos. Só o enfarte do miocárdio mata, em média, 12 pessoas por dia.

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