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Quando as Mulheres Dormem: Exposição fotográfica que retrata o sono das mulheres estará em exibição por todo o país a partir de março

Quando as Mulheres Dormem: Exposição fotográfica que retrata o sono das mulheres estará em exibição por todo o país a partir de março

Conjunto de 12 fotografias da autoria de Sandra Ventura e Tiago Batista em parceria com o projeto Um Sono de Mulher foi apresentado no dia 7 de março, véspera do Dia Internacional da Mulher e, ao longo do ano, terá passagem por várias instituições de saúde, por diversos municípios e espaços públicos de Norte a Sul. O objetivo é alertar para os distúrbios do sono nas mulheres.

Com o objetivo de sensibilizar a população sobre os distúrbios do sono nas mulheres e desmistificar alguns conceitos culturais relacionados com os mesmos, o projeto Um Sono de Mulher nasceu há quatro anos sob a liderança de Susana Sousa, médica pneumologista com competência em Medicina do Sono.

Nas sociedades atuais e ao ritmo a que vivemos, é diário o malabarismo das mulheres para não deixar cair por terra nenhuma das suas responsabilidades: a profissão, a família, a casa e o cuidado com os outros. Numa gestão apertada onde não sobra tempo para nada, o sono é relegado para último plano”, explica. “Aliás, não são raras as famílias onde a mulher é a primeira a acordar, de manhã, e a última a deitar-se, à noite”, acrescenta a especialista. O resultado da normalização desta má rotina do sono é um cansaço acumulado, um estado de exaustão permanente e, em última instância, uma fragilização do estado geral de saúde física, cognitivo e emocional.

Apesar dos distúrbios do sono na mulher não estarem devidamente estudados, uma vez que a investigação incide, sobretudo, na população masculina, sabe-se que “fenómenos biológicos e variações hormonais de que a mulher é alvo ao longo da sua vida favorecem também a má qualidade do sono: a adolescência e as cólicas das primeiras menstruações, a gravidez, o pós-parto, a amamentação e a menopausa. Em cada uma destas fases, as alterações do sono cursam com sintomas de irritabilidade, ansiedade e, muitas vezes, depressão”.

No caso da apneia obstrutiva do sono, doença que se estima que possa afetar 1 bilião de pessoas, entre os 30 e 69 anos, com uma prevalência de cerca de 27,3% nos homens e 22,5% nas mulheres, sabe-se também que a apresentação clínica nas mulheres é diferente da dos homens, com menor sonolência e roncopatia, mas índices aumentados de insónia, fadiga e sintomas depressivos, o que justifica o subdiagnóstico. Além disso, as mulheres apresentam complicações como o desenvolvimento de doenças cardiovasculares superiores às observadas nos homens.

De acordo com Susana Sousa, “a doença é ainda encarada como tipicamente masculina, com questionários clínicos desenhados para a população masculina e com evidência científica proveniente, em sua maioria, de estudos compostos por homens. A reduzida suspeição diagnóstica por parte dos profissionais de saúde e a não perceção e normalização dos sintomas dificultam um diagnóstico precoce que permita o início do tratamento atempado de forma a prevenir complicações”.

Porque uma população bem informada estará sempre mais apta a proteger a sua saúde, o projeto Um Sono de Mulher tem vindo a recorrer à arte e à cultura como instrumentos de literacia em saúde.

“Desde 2021 que assinalamos o Dia Internacional da Mulher com iniciativas que promovem o debate sobre o tema. Acreditamos que, ao longo destes anos, temos conseguido transmitir uma mensagem importante para os profissionais da área clínica. Em 2024, decidimos alcançar a população de uma forma diferente para promover a literacia em saúde: um livro. O Sono Delas foi lançado no dia 8 de março e é uma coletânea de contos, cada um baseado em um caso clínico real, escrito por cinco reconhecidas autoras nacionais, que souberam dar voz às mulheres. 

Mantendo o mesmo objetivo de chegar à população abordando a importância do sono na mulher, em 2025 decidimos usar outra manifestação de arte: a fotografia

Quando as Mulheres Dormem é o nome desta coleção de 12 fotografias que contrariam as imagens que, culturalmente, nos são incutidas desde a infância: a de mulheres bonitas e serenas, mergulhadas num sono profundo como Belas Adormecidas. Mas, sabemos que, longe da ficção, as mulheres dormem quando, onde e como podem. No autocarro, na biblioteca, num intervalo do trabalho. Este é lado não romantizado do sono das mulheres. Este é o retrato em que cada mulher se revê.

Com experiência prévia em projetos sobre o envelhecimento em Portugal, Sandra Ventura e Tiago Batista, fotógrafos especializados em retrato, aceitaram esta parceria ao primeiro convite: “Desta vez, aceitámos um novo desafio, explorando a importância do sono na vida da mulher. Este projeto expande o nosso olhar fotográfico, mantendo a profundidade e o respeito que sempre guiaram o nosso trabalho”, referem.

Segundo Sandra e Tiago, “a fotografia tem o poder de contar histórias sem palavras, capturando momentos que revelam mais do que o olhar alcança”.  Neste novo projeto, “mergulhamos num tema essencial: a importância do sono na vida da mulher”.

Com a mesma sensibilidade e respeito que sempre orientaram o seu trabalho, aceitaram este desafio para explorar o descanso como um reflexo da condição humana. “Cada imagem convida à reflexão sobre um gesto tão simples e ao mesmo tempo, tão essencial: dormir”.

A exposição, que se pretende itinerante, foi apresentada, em primeira mão, no dia 7 de março, a um grupo restrito de profissionais de saúde que trabalham na área da Medicina do Sono, e seguirá depois viagem por todo o país, de forma a estar acessível ao maior número de pessoas. Hospitais, Câmaras Municipais, Casas de Cultura, Galerias e outros espaços públicos são alguns dos sítios onde a exposição poderá ser visitada.