Sociedade Mundial do Sono atribui prémio a projeto português de literacia em saúde
A World Sleep Society (Sociedade Mundial do Sono) acaba de anunciar a lista de iniciativas de literacia em saúde premiadas em 2025 pelas atividades realizadas no âmbito do Dia Mundial do Sono. Projeto português Um Sono de Mulher foi reconhecido com um dos principais prémios deste concurso.

Todos os anos a World Sleep Society atribui prémios a projetos de literacia sobre a importância do sono para a saúde das populações, desenvolvidos no âmbito do Dia Mundial do Sono, celebrado em março. Todos os anos, várias centenas de entidades como sociedades científicas, associações de doentes, serviços hospitalares, clínicas de sono, mas também alguns particulares com interesse na área, apresentam os seus projetos a concurso.
Foi esta semana anunciada a lista de vencedores da edição de 2025, que coloca em destaque um projeto português que, através da arte, tem contribuído para o aumento do conhecimento sobre a importância do sono para a saúde das mulheres e que tem ajudado a desmistificar as doenças do sono na população feminina.
“Nas sociedades atuais e ao ritmo a que vivemos, é diário o malabarismo das mulheres para não deixar cair por terra nenhuma das suas responsabilidades: a profissão, a família, a casa e o cuidado com os outros. Numa gestão apertada onde não sobra tempo para nada, o sono é relegado para último plano”, explica Susana Sousa, médica pneumologista com competência em Medicina do Sono e líder do projeto Um Sono de Mulher, do qual fazem também parte Patrícia Farinha e Andreia Carriço, profissionais ligadas aos Cuidados Respiratórios Domiciliários, e Cátia Jorge, jornalista de Saúde.
“Não são raras as famílias onde a mulher é a primeira a acordar, de manhã, e a última a deitar-se, à noite”, acrescenta a especialista. O resultado da normalização desta má rotina do sono é um cansaço acumulado, um estado de exaustão permanente e, em última instância, uma fragilização do estado geral de saúde física, cognitivo e emocional. Para além disso, as doenças do sono apresentam-se de forma diferente na mulher em comparação com o homem e, muitas vezes, são mais difíceis de diagnosticar, razão pela qual muitas destas patologias permanecem subdiagnosticadas e, consequentemente, não tratadas.
Criado há quatro anos, o projeto Um Sono de Mulher viu agora o seu trabalho reconhecido pela World Sleep Society com o prémio Libório Parrino, que valoriza a criatividade artística das iniciativas desenvolvidas no âmbito do Dia Mundial do Sono. O prémio será entregue em Singapura, no decorrer do 18.º Congresso Mundial do Sono, já no início do mês de setembro.
Porque uma população bem informada estará sempre mais apta a proteger a sua saúde, o projeto Um Sono de Mulher tem vindo a recorrer à arte e à cultura como instrumentos de literacia em saúde.
“Desde 2021 que assinalamos o Dia Internacional da Mulher com iniciativas que promovem o debate sobre o tema. Acreditamos que, ao longo destes anos, temos conseguido transmitir uma mensagem importante para os profissionais de saúde dedicados a esta área. Em 2024, decidimos alcançar a população de uma forma diferente para promover a literacia em saúde: um livro. O Sono Delas foi lançado no dia 8 de março e é uma coletânea de contos, cada um baseado em um caso clínico real, escrito por cinco reconhecidas autoras nacionais – Filipa Fonseca Silva, Helena Magalhães, Iris Bravo, Maria Isaac e Susana Amaro Velho – que souberam dar voz às mulheres. O livro está à venda nas principais livrarias físicas e online e já vai na segunda edição.
“Mantendo o mesmo objetivo de chegar à população abordando a importância do sono na mulher, em 2025 decidimos usar outra manifestação de arte: a fotografia”.
Quando as Mulheres Dormem é o nome da coleção de 12 fotografias, da autoria de Sandra Ventura e Tiago Batista, que contrariam as imagens que, culturalmente, nos são incutidas desde a infância: a de mulheres bonitas e serenas, mergulhadas num sono profundo como Belas Adormecidas. Mas, sabemos que, longe da ficção, as mulheres dormem quando, onde e como podem. No autocarro, na biblioteca, num intervalo do trabalho. Este é lado não romantizado do sono das mulheres. Este é o retrato em que cada mulher se revê.
A exposição foi inaugurada no piso nobre da Assembleia da República no dia 14 de março, Dia Mundial do Sono, onde esteve em exibição até 14 de abril. Desde então que está a circular por vários hospitais, centros culturais e galerias de arte por todo o país.
“Este projeto foi pensado e idealizado por quatro mulheres com o objetivo de aumentar a literacia em saúde do sono, a que se juntaram a criatividade das cinco escritoras e dos dois fotógrafos que tão bem deram corpo ao tema e apoiado por tantas pessoas e instituições que ajudaram na sua divulgação e promoção. Este prémio é o resultado do trabalho de todos”, sublinha Susana Sousa.