“O Sono Delas” | Livro aborda as particularidades do sono da mulher

O livro “O Sono Delas” reúne cinco contos inspirados em casos clínicos reais, escritos por cinco reconhecidas autoras portuguesas contemporâneas, com o apoio de uma especialista em Medicina do Sono, e foi apresentado no dia 8 de março – Dia Internacional da Mulher.

“Este livro partiu de um projeto informal desenvolvido por quatro mulheres que trabalham na área da saúde e que se cruzaram na missão de aumentar a literacia sobre o sono da mulher”, explica Susana Sousa, médica pneumologista e especialista em Medicina do Sono.

“Infelizmente, as mulheres sofrem cada vez mais com perturbações do sono, entre as quais a insónia ou a apneia do sono. Contudo, sentem vergonha de pedir ajuda e de falar abertamente sobre o assunto”, acrescenta.

Num mundo em que todas nós crescemos a ver personagens da Disney que dormem como princesas e atrizes de novelas que acordam com o cabelo arrumado, a pele brilhante e um sorriso luminoso, é difícil assumir que, afinal, as mulheres também ressonam, rangem os dentes ou falam durante o sono e também podem acordar com olheiras e mau humor.

“O problema é que não procurar ajuda por problemas relacionados com o sono pode significar o atraso no diagnóstico e tratamento de uma doença do sono que, como sabemos, pode aumentar o desenvolvimento de doenças graves como a diabetes, a depressão e ansiedade, as doenças cardio e cerebrovasculares, entre tantas outras patologias”, explica Susana Sousa.

Assim, “é preciso desmistificar as doenças do sono nas mulheres, é preciso alertar para as consequências da dívida de sono que se acumula ao longo da vida e é preciso informar que é há tratamento para melhorar as doenças do sono. É também preciso quebrar o estigma em relação ao tratamento das doenças do sono”.

Foi no âmbito desta missão que desafiaram as escritoras Filipa Fonseca Silva, Helena Magalhães, Íris Bravo, Maria Isaac e Susana Amaro Velho para darem voz a cinco mulheres, inspiradas em casos clínicos reais, que sofreram as consequências de uma patologia do sono.

Oscilando entre a insegurança de um primeiro amor e a dor do luto, o peso do envelhecimento e as dúvidas da adolescência, a insatisfação no casamento e o desgaste provocado pelas exigências da maternidade, esta antologia pretende dar voz a mulheres exaustas, que precisam de dormir. Assim, o livro aborda, sem tabus nem constrangimentos, a importância do sono da mulher.

“Dar voz à protagonista do meu conto, a uma paciente com apneia do sono, fez-me perceber o quanto este tema ainda é tabu, o quanto se espera das mulheres que tenham superpoderes.  Ser mãe, mulher, boa profissional, executar de forma plena todas as tarefas, mesmo quando não dormem, como se isso fosse possível, ou normal. Este é um projeto com uma importância imensurável, porque dá voz, alerta para as doenças do sono e, sobretudo, porque desmistifica a questão da vergonha.  A mulher deve, e pode, mostrar a sua vulnerabilidade sem condenações”, afirma Susana Amaro Velho.

Segundo Maria Isaac, “Se nunca recordamos as noites bem dormidas, também é verdade que não falamos o suficiente sobre as mal dormidas, nem das muitas razões pelas quais todas nós nos tornamos animais noturnos em diferentes fases das nossas vidas. Foi por esta necessidade de diálogo sobre o que nos mantém acordadas, que integrei esta antologia com grande entusiasmo, dando voz a uma mulher real que partilha as longas noites com a insónia, revelando a sua exaustão nesta que é uma luta tão desigual, e partilhando o desejo mais simples da natureza humana: uma boa noite de sono”.

“Nos últimos anos, todo o meu trabalho tem sido dedicado ao feminismo e particularmente focado na desconstrução de barreiras e preconceitos em torno das mulheres na literatura portuguesa. Quando falamos dos tabus em torno da saúde mental e doenças do sono e o seu impacto em todas as esferas da vida das mulheres — pessoal, profissional, social, familiar e até íntima — há um lugar de conciliação que pode ser criado através da arte e da ficção. As palavras têm impacto, as palavras mudam vida e nesta antologia queremos desmistificar uma série de tabus que possam, de alguma forma, criar um melhor entendimento do sono da mulher”, afirma Helena Magalhães.

“No dia em que me desafiaram para fazer parte deste projeto, senti uma empatia imediata pela ideia, própria de quem também sofreu na pele as consequências da privação de sono. Depois, quando a Susana nos apresentou os casos clínicos que seriam a base dos contos, conhecer as histórias e o impacto que os problemas de sono causam na vida das suas doentes fez-me sentir muito orgulhosa por participar neste projeto”, adianta Íris Bravo.

“Quando me foi feito o convite para escrever um conto sobre o sono da mulher, fiquei logo entusiasmada, porque não dormir é para mim a maior tortura. Curiosamente, o caso clínico que me calhou podia ser a história da minha vida e da vida de tantas mulheres que conheço: a mulher que não dorme porque o parceiro ressona. Trata-se de um problema muito desvalorizado, numa sociedade em que ainda se assume que é normal os homens ressonarem e as mulheres aguentarem, como aguentam tantas outras coisas dentro e fora de uma relação. O meu conto é um grito para essas mulheres: não temos de aguentar. Temos é de dormir bem”, descreve Filipa Fonseca Silva.

Com a chancela Cultura, do grupo editorial Infinito Particular, o livro foi lançado a 8 de março, num evento fechado a profissionais de saúde que trabalham na área do sono e estará, em breve, disponível nas livrarias portuguesas.

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