“Uma arritmia não é um coração a bater depressa, é o coração a bater de uma forma que não é a normal”

“Qual é o ritmo certo?” foi o mote do workshop para jornalistas, promovido pela Medtronic, que se realizou no passado dia 26 de março. O painel de palestrantes foi composto por Francisco Moscoso Costa, cardiologista do Hospital de Santa Cruz, e por Carlos Morais, cardiologista do Hospital Professor Doutor Fernando Fonseca e presidente da Associação Bate Bate Coração. Para além das apresentações de ambos, o workshop contou com uma vertente prática de realidade aumentada que permitiu assistir à implantação do pacemaker mais pequeno do mundo.

O coração contrai-se mais de 100.000 vezes por dia, de modo a manter a circulação sanguínea. Para assegurar o funcionamento regular e sem problemas, o coração possuí um centro de controlo conhecido como nódulo sinusal, que atua como gerador de impulsos e está localizado na aurícula direita. Quando estes impulsos não são produzidos corretamente, o coração bate de forma irregular, gerando uma arritmia.  “Uma arritmia não é um coração a bater depressa, é o coração a bater de uma forma que não é a normal, ou seja, diferente do ritmo sinusal”, começou por explicar Francisco Moscoso Costa. Numa arritmia, o coração pode bater demasiado depressa (taquiarritmias, tendo uma frequência acima de 100 batimentos por minuto), demasiado devagar, (braquiarritmias que têm uma frequência inferior a 50 batimentos por minuto), ou ainda, de um modo irregular – em que a frequência pode até ser normal, ou seja, entre os 50 e os 100 batimentos por minuto, mas o ritmo é irregular.

Fibrilhação Auricular e Fibrilhação Ventricular

Para além de se dividirem em dois tipos, as arritmias podem estar localizadas nas aurículas ou nos ventrículos. Com localização nas aurículas, a arritmia mais comum é a fibrilhação auricular (FA), sendo esta a mais prevalente no ser humano. “A FA afeta cerca de 11 milhões de pessoas na Europa, sendo mais frequente na população com idade superior a 65 anos, uma população que, desta forma, tem um risco aumentado de acidente vascular cerebral (AVC)”, adiantou o cardiologista. A FA traduz-se por um “batimento das aurículas superior ao do resto do coração, o que provoca um batimento irregular e a formação de coágulos sanguíneos que podem dirigir-se até ao cérebro”, daí o elevado risco de AVC.

A prevalência de FA está diretamente relacionada com os fatores de risco “não modificáveis – idade, sexo, fatores genéticos – e modificáveis – obesidade, consumo de álcool, stresse extremo, cafeina, sedentarismo”, esclareceu o especialista do Hospital de Santa Cruz. Para além disto, a prevalência é maior nos indivíduos que têm doenças cardiovasculares – insuficiência cardíaca ou doença valvular cardíaca.

Por sua vez, e com localização nos ventrículos, temos a fibrilhação ventricular (FV). Esta FV surge no ecocardiograma (ECG) sob forma de um “traçado irregular, com ondas e com várias escalas de amplitude”. Neste caso, o prognóstico é fatal, levando, na maior parte das vezes, à morte súbita se não for corrigida rapidamente – através de suporte básico de vida seguido de desfibrilhação. “O único tratamento disponível para esta arritmia é a desfibrilhação e o tempo que temos, depois do suporte básico de vida até desfibrilhar, são pouco mais de 5 minutos”, elucidou o cardiologista. Em Portugal temos 12 mil de casos de tentativa de ressuscitação em que as manobras de reanimação cardiopulmonar foram aplicadas, das quais, “apenas 681 casos de doentes chegaram vivos ao hospital, e em cerca de 57% não foi possível realizar manobras de reanimação até a chegada de socorro”, dados adiantados por Francisco Moscoso Costa. “A morte súbita num desportista é muito mediática e nós estamos muito alerta, mas, na realidade, a grande parte das mortes súbitas ocorre na população com mais de 40 anos e é derivada de fatores de risco cardiovasculares comuns, como o sedentarismo, o tabagismo, a dislipidemia, tensão arterial elevada e diabetes”. Segundo o especialista “as doenças cardiovasculares são a principal causa de mortes em Portugal, tirando vida a 33.443 pessoas por ano, representando 29,7% da mortalidade em Portugal”. Estes números refletem-se em mais de 330 milhões de euros para o Serviço Nacional de Saúde (SNS).

O cardiologista do Hospital de Santa Cruz assegurou a importância de a população estar devidamente informada sobre os sinais de alerta das arritmias – “palpitações, batimento cardíaco alterado, fadiga, tonturas, cansaço, desmaio, falta de ar, dor no peito”. “Cerca de 15% a 30% da população não tem qualquer sintoma e isso não quer dizer que não esteja em risco. Na faixa etária dos 65 ou mais anos, as pessoas devem estar em alerta”, apelou. Quando são detetados os sintomas, as arritmias podem ser diagnosticadas através da medicação da pulsação e da realização de uma eletrocardiograma. Nos casos já diagnosticados e em tratamento, “é importante que o doente não abandone a terapêutica para controlar a arritmia, porque ao fazê-lo corre o risco de ter eventos como um AVC”, concluiu Francisco Moscoso Costa. A par do tratamento, o doente deve ainda adotar estilos de vida saudáveis – atividade física regular, alimentação saudável, perder peso – de forma a diminuir o risco de eventos futuros.

Vertente prática e experiência de doentes

No âmbito deste workshop formativo, os jornalistas tiveram uma file5-2vertente prática onde foi possível ver a implantação do pacemaker mais pequeno do mundo, criado pela Medtronic, que mede 2,5cm e tem um décimo do tamanho de um dispositivo convencional. Este dispositivo, fruto das evoluções tecnológicas dos últimos anos, é “implanado pela virilha e fica inserido dentro do coração por um período de 10 anos, que é a duração da pilha. O procedimento não implica qualquer tipo de cicatriz para o doente”, explicou o cardiologista, Francisco Moscoso Costa.

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No final da formação, Carlos Morais, cardiologista do Hospital Professor Doutor Fernando Fonseca e presidente da Associação Bate Bate Coração, passou alguns testemunhos em vídeo de doentes da campanha “O meu coração sou eu” salientando que “é importante que os doentes saibam que podem ter uma vida completamente normal com um ‘pacemaker’. Existem cerca de 100 a 200 mil doentes com este tipo de dispositivos”.

Pode visualizar os vídeos aqui:

Maria de Jesus Gomes da Silva

Mário Gomes

Carla Rocha

Por Rita Rodrigues

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