Em Portugal, as doenças respiratórias matam 2 pessoas por hora

O Observatório Nacional das Doenças Respiratórias (ONDR) divulgou hoje no auditório dos Serviços Sociais da Câmara Municipal de Lisboa, o relatório de 2018 referente aos dados da situação atual e evolução dos últimos anos relacionados com as doenças respiratórias. O relatório do ONDR contou com a colaboração de 12 especialistas de renome da área da pneumologia e do sector da saúde em Portugal, simultaneamente conhecedores da realidade teórica e das necessidades práticas.

Na 13ª edição do Relatório destacam-se as cerca de 2 mortes por hora que acontecem em Portugal devido às doenças respiratórias e neoplasias do mesmo foro. De sublinhar ainda a inclusão, pela primeira vez, de um capítulo dedicado ao transplante pulmonar, que apresenta os dados evolutivos dos últimos 10 anos.

António Carvalheira Santos, relator do 13º relatório e responsável pelo Observatório Nacional de Doenças Respiratórias, destaca que “ainda existe um deficit na promoção da saúde e na prevenção da doença, por falhas na educação para a saúde. Portugal carece ainda da implementação de uma verdadeira rede de espirometria essencial para a avaliação funcional dos doentes respiratórios e, mais grave ainda, praticamente não oferece a possibilidade de os doentes fazerem reabilitação respiratória, que deve fazer parte integrante do plano terapêutico de todos os doentes respiratórios crónicos sintomáticos”.

José Alves, presidente da Fundação Portuguesa do Pulmão (FPP), revela que “este relatório vem fundamentar as apostas que a FPP tem feito e continuará a fazer para melhorar a saúde respiratória em Portugal. Considera que é preciso alterar a política do tabaco, aplicando mais taxas de forma a aumentar significativamente o preço do tabaco e coimas a quem não respeite a lei anti-tabágica; alterar a epidemiologia da DPOC, através da generalização da espirometria nos fumadores das faixas etárias mais jovens e não apenas a partir dos 40 anos, como se tem feito em Portugal; a diminuir a incidência do cancro do pulmão, através da cessação tabágica”.

As doenças do sistema respiratório são a primeira causa de internamento e a terceira causa de morte em Portugal, a seguir ao cancro e às doenças cardiovasculares. Estima-se que, em 2020 no mundo, as doenças respiratórias sejam responsáveis por cerca de 12 milhões de mortes anuais. A mortalidade por doenças respiratórias em Portugal Continental e nas Regiões Autónomas é das maiores da Europa e ultrapassa os 115 por 10000 habitantes. A Madeira é a região da europa com maior taxa de mortalidade por doenças respiratórias. Se incluirmos os óbitos por cancro da traqueia, brônquios e pulmão, as doenças respiratórias estão na causa de 13.474 mortes em 2016. Ou seja, por dia morrem cerca de 48 pessoas (2 por hora) em Portugal devido a doenças respiratórias. Destes 13.474 óbitos, 6006 ocorreram por pneumonia.

A pneumonia é a doença que mais mata e representa 7% dos internamentos médicos e 5% de todos os episódios de internamentos médicos e cirúrgicos. A doença pulmonar obstrutiva crónica (DPOC) apresenta uma taxa de mortalidade de 8%, os cancros de 31%, as pneumonias de 20% e a insuficiência respiratória de 25%. A DPOC passou, em 15 anos, de 5ª causa de morte para 3ª, tendo em Portugal uma prevalência estimada de 14,2% para as pessoas com mais de 40 anos (cerca de 800.000). Apesar disso, Portugal é um país com baixo número de internamentos por DPOC (diminuíram 14,7% em 10 anos), o que sugere um razoável controlo da doença em, ambulatório. Ainda assim o 13º relatório do ONDR assinala um subdiagnóstico da DPOC.

Olhando para os internamentos realizados nos últimos 10 anos (entre 2007 e 2016) verifica-se que o número total de internamentos por doenças respiratórias aumentou 26% e os episódios de doentes submetidos a ventilação mecânica aumentou 131%.Os custos associados aos internamentos por doenças respiratórias atingiram 213 milhões de euros em 2013. Tendo o custo médio de um internamento por doença respiratória sido de 1.892 euros em 2013.

O tabaco continua a ser um fator de risco importante para inúmeras doenças respiratórias: foi responsável por 46,4% das mortes por DPOC, 19,5% das mortes por cancro, 12% das mortes por infeção respiratória inferior. Sendo ainda responsabilizado por 5,7% das mortes por doença cérebro-cardiovascular e 2,4% das mortes por diabetes. Segundo o Institute of Healths Metrics and Evaluation, em 2016 morreram em Portugal 11.800 pessoas devido a doenças relacionadas com o tabaco, o que corresponde à morte de uma pessoa por cada 50 minutos.

Pela primeira vez o relatório anual do ONDR apresenta um capítulo dedicado ao transplante pulmonar, com uma análise da evolução dos últimos 10 anos. O Centro Hospitalar Lisboa Central (CHLC) é o único onde são efetuados os transplantes pulmonares no nosso país e desde a realização do primeiro transplante pulmonar, em 1991, já realizou 208 transplantes, 192 desde 2008, o que coloca o Hospital de Santa Marta ao nível daqueles que mais transplantam a nível internacional. A taxa de sobrevida dos doentes transplantados é ligeiramente superior aos resultados dos registos internacionais, sendo de três meses em 98% dos casos, de um ano em 81% dos casos e de cinco anos em 59% dos casos.

A síndrome de apneia obstrutiva do sono (SAOS) também é analisada no 13º relatório do ONDR.Tem-se verificado um aumento da prevalência na ordem dos 23% em mulheres e dos 50% nos homens, sendo a maioria dos casos diagnosticada com SAOS moderada ou grave (82,4%), o que pode revelar um subdiagnóstico desta condição clínica em Portugal. Atendendo à prevalência crescente da SAOS e à eficácia comprovada do seu tratamento com CPAP (Continuous Positive Airway Pressure, ou seja, pressão positiva contínua nas vias aéreas), o futuro desenvolver-se-á numa estratégia eficaz de referenciação dos doentes ao nível dos CSP, na inovação diagnóstica com a descoberta e validação de novos métodos de diagnóstico simples, acessíveis e de baixo custo e na inovação terapêutica na melhoria dos modelos de seguimento dos doentes tratados com CPAP.

Para este relatório foram consultados dados e documentos das seguintes entidades: Administração Central dos Serviços de Saúde (ACSS), Direção Geral de Saúde (DGS), Programa Nacional para as Doenças Respiratórias, Infarmed, Instituto Nacional de Estatística (INE), Instituto Ricardo Jorge, Eurostat, Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Económico (OCDE), e Organização Mundial da Saúde (OMS).

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